Minha caneta é o cano de minha arma, porém minha escrita é meu único escudo”. DANY ROCHA

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

ESSA DROGA DE MODERNIDADE – Um diálogo sofrido entre o ser e o não poder ser



O despertador do celular toca. São 5h e 45mim da manhã. Anuncia que por hoje é hora de dormir para então, no outro dia retomar a jornada de estudos...
Olho em minha volta e percebo que já faço isso por longas semanas, e que se tornaram práxis.
Olho novamente o relógio, e percebo que já é domingo... Então se passou todo o final de semana, em que outros tomam como descanso, sem ao menos eu perceber...
Entre um trago de cigarro ou outro, paro por um ínfimo momento ao ver a fumaça se dispersar no final do quarto...
Olho ao redor e vejo apenas um amontoado de livros e apostilas, restos de comida, uma taça de Merlot e ao longe o brilho vermelho da luz na bateria do celular recarregando... Sinto-me só...
Sinto que falta algo mais, para que eu esteja hoje e agora, buscando conhecimento e aprimorando o que eu já detenho, por uma causa.
Reminiscências povoam meu inconsciente vazio de emoções...
Ao mesmo instante, me faz questionar os porquês de tudo isto.
Abro a janela do meu quarto e vejo os respingos da garoa que já se despedia de uma noite chuvosa.
Questiono sobre tudo, os motivos de tudo que vivo...
As consequências... Os anseios, os medos... Tudo!
E como em um “flashback”, o filme de minha existência assiste ao cair da minha inexistência pessoal:
Lembrei de meus avôs. Aprendi que a maior das lições pode ser absorvida ao lado de uma pessoa mais velha. Que as experiências senis se aglutinam em nossas vivencias e geram conflitos em nosso próprio Eu.
Existimos por algum processo, por algo que a vida nos reservou desde o dia que viemos ao mundo. Espiritualmente falando, retornamos para resgatar e evoluir. Existe um Ser Supremo dono de nossas vidas, de nossos destinos. Nada é por acaso...
Refletindo assim, chego a comungar com as ideias de que somos individualmente falando, frágeis demais para compreender a natureza humana. Somos incapacitados para assumir nossa própria vida.
Pessoas vão e veem o tempo todo. De forma aleatória em nossas vidas, essas pessoas chegam para nos preencher da capacidade em aprender que, apenas através da vivencia é que podemos ser capazes de escolher o que realmente somos e, para que realmente vimos ao mundo e mais ainda, de qual ordem fazemos parte. É eu sei, é complicado...
Aos anos que vivi, percebo que como ser humano que sou, sou falha.
Sou inerte a situações constrangedoras. Aquelas nem um pouco esperadas ou cogitadas pelos anos afora, as quais eu tive que passar.
Desde o meu nascimento, marquei território e quem está me lendo, também marca o seu próprio lugar, de certa forma.
Sobrevivi numa selva sem fim, onde todos buscam sua real existência.
Tive momentos gloriosos, como também, “desossifiquei-me” de dor, de pranto. Como qualquer criatura de corpo, alma, sangue e coração... Nesse caso, você!
Não falo em dor meramente física, mas da dor inexistêncial, pois é impossível decifrá-la, dor da alma, que não acalma...
O ser humano é sensível. É um pedaço de material bruto não perecível, pois ao ser agredido, se torna como um cristal que mesmo colado, lapidado novamente, não consegue ter as ramificações do brilho perdido da pedra bruta pela queda... Quebrou? Não se reestrutura jamais... Ficam os estilhaços, fincados... Tatuados na matéria como em nossos sentimentos… Alguns humanos são assim.
A massa feminina e alguns poucos homens também são assim... A outra parte encoberta pelo machismo existencial, preferem ficar calados... Muitos deles, anulados, visíveis marionetes do sistema, se corroendo em emoções que deliberadamente em seus pensamentos, não os pertencem... Sofrem e sofrem muito... Mas, não cabe bem demonstrar fraqueza. São os machos. Os alfas...
E existe um sexo frágil para tudo isso? Haveria diferenciação entre o ser homem, mulher, menino, menina, homossexuais, transexuais, bis, lésbicas, se ao final somos todos carne e espírito de um mesmo corpo, criados por obra de um mesmo PAI? Saberíamos ao certo dizer a pessoa, seja ela quem for quando exprimimos sentimentos ao outro?
Habitualmente, o ser humano está condicionado a não exercer o papel de fragilidade diante do outro. Isso porque, em um mundo competitivo em que as máquinas e o sistema de informação tecnológico tomaram conta de tudo e de todos, massificando um comportamento eletrônico, virtual e mecânico, não há espaço para sentimentos.
Nas redes sociais, amigos de uns “trocentos” outros amigos... Pessoas populares nessas redes, ao fim do dia, encontram-se sozinhas como eu ou como você. Baladeiros, curtidores de festas e eventos, nessa hora “H” estão sozinhos. Apaixonados com a liquidez dos relacionamentos, com as inúmeras listas de ficantes ou “crushs” virtuais, extravasando nos twitters, nos instagrans ou afobando-se no famoso “zapzap”... Estarão todos eles, sozinhos como eu...
E o que seria o Eu dessas pessoas hoje, se não o EU sistemático de uma sociedade condicionada pela “idiotifiocação” humana, em desconsiderar coisas simplórias como ir ao cinema, ao teatro, escrever seus manuscritos poéticos em um velho caderno esquecido em uma gaveta qualquer?
Seria piegas? Seria ultrapassado dizer que ama? Seria demais querer um jantar a luz de velas ou mesmo fazer compras, juntinho com o ser amado em um supermercado da esquina?
Seria demais acreditar que dentro de um fosso imundo de ideologias baratas e abstratas, ainda sim, o ser humano luta pelo amor? Luta por se dar e doar-se ao ser amado?
Porque ao invés de longas digitações, utilizando o famoso “ctrl+v, ctrl+c” da vida digital, pegando pensamentos subscritos de outros pensadores com frases feitas e clichês, não chegam simplesmente no outro e dizem: Eu amo você!
Porque ao quimerizar o homem ou a mulher ideal, somos tão medíocres ao ponto de confrontarmos nossos desejos aos parâmetros preestabelecidos de uma sociedade, que busca uma Angelina Jolie e um Brad Pitt para ser a sensação do momento? O casal perfeito que a sociedade deseja e que a Igreja estabeleceu... Longe de mim, tecer qualquer comentário sobre religião... Mas, é muita HIPOCRESIA, medir o amor entre as pessoas pela idade, pelo perfil social, cultural, cor, raça, sexo e ideologias. Só falta perguntarem para que time os dois torcem...
Onde ficou o romantismo? Onde está a verdadeira força vivida que é o amor entre as pessoas? Nesse diálogo, falo de amizade, amor e principalmente a lealdade. Lealdade que difere de FIDELIDADE... Lealdade de suas próprias convicções de vontades... Lealdade de acreditar no outro, permanecer e honrar.
Por que ao invés de digitar em um computador portátil, não escrevo um belo poema no corpo de meu amado? Faria curvas poéticas e assimétricas em cada parágrafo. Desceria e subiria respeitando as pautas pelo corpo exposto a mim...
Por que ao invés de estar promíscuo em sites de relacionamentos, não estou vivenciando o desejo e a paixão com alguém palpável, verdadeiro e substancial?
São muitas as interrogações meus caros colegas. São indagações que com toda certeza, no íntimo de vocês são gritantes, mas impedidas pelos ‘axismos’ dos companheiros, do sistema ou por simplesmente se encontrarem classificados como “DÉMODÉ”, ultrapassados...
De tudo o que foi pensado e escrito, assoberbada pelos pensamentos, os respingos da chuva se faziam mais fortes sobre a janela do meu quarto.
Uma nova tempestade se aproximava... Peguei um velho caderno, comecei a escrever. Desta vez manuscrevendo...
De súbito as palavras surgiam, como psicografias, o texto se redigia assim:  “Hoje ao inebriar- me em profundos pensamentos, falando a verdade, prefiro ser um dinossauro, a ser e servir uma sociedade andrógena que não sabe lidar com sentimentos. Prefiro ser o que sou, mesmo modernizada pelas minhas linhas de pensamentos, e adaptadas as minhas vivencias aos termos tecnológicos. Prefiro ser EU, o que de fato me faz ser alguém, a capacidade de ainda poder refletir, de poder sentir, me doar insanamente ao amor, perdoar, amar, me permitir, de dar o meu corpo ao ser amado, alienar-me nas ilusões, sonhar com o amor eterno e ser inconfundivelmente alguém, ser apenas Eu... Inconfundivelmente!” 

                por DANY ROCHA


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