Minha caneta é o cano de minha arma, porém minha escrita é meu único escudo”. DANY ROCHA

terça-feira, 9 de julho de 2019

EVASIVA





Sem motivos vê a vida passar.
Mais um dia amanhecido. Mera expectadora da aurora!
E de repente em meio a labuta diária, ela de súbito para.
Instaurando em si um silêncio avassalador, auto hipnótico, um transe...
Seus olhos tem um brilho estranho, de uma tristeza eloquente.
Ela se olha no espelho e não consegue ver o seu avesso.
Aquele lado oposto que contamina tudo com alegria...
Seu rosto pálido, contrasta ao mesmo tempo com as profundas olheiras denunciando as noites não dormidas.
Parada frente à janela, ela contempla o horizonte distante adentrando ao pôr do sol.
O crepúsculo cinza inebriado mais parece os seus reais sentimentos.
Sentimentos de alguém perdido no tempo, nas incertezas e nas decepções existenciais.
É como se o corpo não habitasse alma, nenhum vestígio de vida encontrava-se ali.
Tudo era sobrevida! Vazio, saudade, solidão, devaneios...
Ela vivia somente trocando passos pelas ruas, ao invés de caminhar consciente.
Ela vivia escrevendo histórias de vida por entrelinhas.
Ela vivia não viver. Evasiva.
Ela vivia voando em uma motocicleta as 4 h da manhã quando o sono não vinha...
E ao regressar ao lar, quase sempre o dia estava novamente ali. Nascendo de novo.
E era nesses “voos noturnos” que recordava alguns momentos bons. Ela pensava nele...
E se agarrava as reminiscências que chegam em noites vazias revirando as emoções.
De olhos fechados pilotando em uma enorme via reta, a adrenalina, o risco, o vento tocando o rosto dela, os cabelos esvoaçando...
De olhos fechados... Sim, deste modo podia vê-lo nitidamente em seus pensamentos.
O mesmo sorriso no canto da boca, o porte másculo ao andar, a voz marcante, o olhar negro que a deixava sem graça e aquela mesma vida confusa...
Mesmo distante, ela dava um jeito de estar sempre perto da presença dele.
De tudo, Ele era a única coisa viva que aliviava-a um pouco da vida vazia e insignificante.
O peso nos ombros, o cansaço físico, mental, espiritual. Ela estava cansada...
Ela queria dormir... Talvez, para sempre!
As dúvidas, os questionamentos sem respostas sobre tudo...
Tantos planos, tantos sonhos perdidos no meio do caminho. Jogados fora, esquecidos.
Abortados, sem nexo, sem sentido. Agora sem importância para ela.
Um mal súbito Shakespeariano. “O ser ou não ser, eis a questão.” 
A respiração ofegante, a sudorese, as mãos frias e a aceleração no coração não era de paixão, não era medo... Não compreendia.
Mas, tinha um gosto amargo... De cálice de sangue e suor.
A avidez dos sentimentos era tão profunda que o órgão vital do amor se deteriorava dentro do peito dela.
Seus lábios não tinham o mesmo sorriso de outrora. As gargalhadas se findaram. Nenhuma situação cômica, nenhum caricata a fazia sorrir.
A mulher menina de cerne brincalhona e feliz, deixou espaço para a liquidez senil...
Decrépita criatura!
Por mais que estivesse na presença de “amigos” ela se encontrava só.
Seu corpo estava só. Sua alma estava só.
Ela fugia de si... Ela fugia de todos. 
Como sempre, Alone!
                                                           
 Por Dany Rocha. 09/07/19