Sem motivos
vê a vida passar.
Mais
um dia amanhecido. Mera expectadora da aurora!
E de repente
em meio a labuta diária, ela de súbito para.
Instaurando
em si um silêncio avassalador, auto hipnótico, um transe...
Seus olhos
tem um brilho estranho, de uma tristeza eloquente.
Ela se
olha no espelho e não consegue ver o seu avesso.
Aquele
lado oposto que contamina tudo com alegria...
Seu rosto
pálido, contrasta ao mesmo tempo com as profundas olheiras denunciando as
noites não dormidas.
Parada
frente à janela, ela contempla o horizonte distante adentrando ao pôr do sol.
O crepúsculo
cinza inebriado mais parece os seus reais sentimentos.
Sentimentos
de alguém perdido no tempo, nas incertezas e nas decepções existenciais.
É como
se o corpo não habitasse alma, nenhum vestígio de vida encontrava-se ali.
Tudo era
sobrevida! Vazio, saudade, solidão, devaneios...
Ela vivia
somente trocando passos pelas ruas, ao invés de caminhar consciente.
Ela vivia escrevendo histórias de vida por entrelinhas.
Ela vivia não viver. Evasiva.
Ela vivia
voando em uma motocicleta as 4 h da manhã quando o sono não vinha...
E ao
regressar ao lar, quase sempre o dia estava novamente ali. Nascendo de novo.
E era
nesses “voos noturnos” que recordava alguns momentos bons. Ela pensava nele...
E se
agarrava as reminiscências que chegam em noites vazias revirando as emoções.
De olhos
fechados pilotando em uma enorme via reta, a adrenalina, o risco, o vento
tocando o rosto dela, os cabelos esvoaçando...
De
olhos fechados... Sim, deste modo podia vê-lo nitidamente em seus pensamentos.
O mesmo
sorriso no canto da boca, o porte másculo ao andar, a voz marcante, o olhar
negro que a deixava sem graça e aquela mesma vida confusa...
Mesmo
distante, ela dava um jeito de estar sempre perto da presença dele.
De tudo,
Ele era a única coisa viva que aliviava-a um pouco da vida vazia e
insignificante.
O peso
nos ombros, o cansaço físico, mental, espiritual. Ela estava cansada...
Ela queria
dormir... Talvez, para sempre!
As dúvidas,
os questionamentos sem respostas sobre tudo...
Tantos
planos, tantos sonhos perdidos no meio do caminho. Jogados fora, esquecidos.
Abortados,
sem nexo, sem sentido. Agora sem importância para ela.
Um mal
súbito Shakespeariano. “O ser ou não ser,
eis a questão.”
A respiração
ofegante, a sudorese, as mãos frias e a aceleração no coração não era de
paixão, não era medo... Não compreendia.
Mas,
tinha um gosto amargo... De cálice de sangue e suor.
A avidez dos sentimentos era tão profunda que o órgão vital do amor se deteriorava dentro do peito dela.
A avidez dos sentimentos era tão profunda que o órgão vital do amor se deteriorava dentro do peito dela.
Seus lábios
não tinham o mesmo sorriso de outrora. As gargalhadas
se findaram. Nenhuma situação cômica, nenhum caricata a fazia sorrir.
A mulher
menina de cerne brincalhona e feliz, deixou espaço para a liquidez senil...
Decrépita
criatura!
Por mais
que estivesse na presença de “amigos” ela se encontrava só.
Seu corpo
estava só. Sua alma estava só.
Ela fugia
de si... Ela fugia de todos.
Como sempre, Alone!
Por Dany Rocha. 09/07/19