E se eu soubesse escrever?
E se eu tivesse o dom da palavra?
Escreveria as mais ridículas cartas de amor,
As quais Fernando nunca escreveu.
Olharia as estrelas do jardim e na Via Láctea,
Com os olhos estremecidos ouviria seus lamentos.
Àqueles que Olavo, “ora
direis” jamais escutou.
Entretanto, assim direis ora estrelas do quão amargo
É a solidão da tua ausência.
E se eu soubesse escrever?
Falaria talvez, o que sinto?
Se eu soubesse expressar o tamanho do
céu que existe em mim,
Dentro do meu ser não seria só minh’alma,
Mas, habitaria um Éden a te esperar.
E quanto do tanto que amei... E amei sozinha...
Posto que de ti, ilusão recebi.
Eu amei com veracidade, algo e alguém
utópico demais...
Amei como uma poeta ama o ser idealizado
E amei o poeta que és!
E se eu soubesse dizer?
Se eu soubesse escrever e tivesse o dom
da palavra?
Como Charneca em Flor, a Florbela que existe em mim
Falaria com fervor.
Desfolharia as amarras dos espinhos
E ecoaria aos teus pés
Palavras vãs com imensurável amor.
Sou como Luíza, sou como Amélia,
“mulher que toma a pena para em lira transformar”
E se eu soubesse
escrever?
Se eu soubesse
escrever te daria meu diário,
Escrito com palavras esdrúxulas
Marcadas por lágrimas e suor.
Páginas restritas,
escritas e apagadas... Frases rasgadas.
Noite adentro e insone no leito que um dia foi flor
E hoje rejeita.
Se eu soubesse escrever ou tivesse o dom da palavra
Ecoaria um canto mudo.
Aquele com os mil sinais traduzidos,
Sinalizados por minhas mãos...
Ah... Se eu soubesse
escrever...
Gritaria ao amor, palavras
surdas igualadas à beira do teu silêncio.
Por Dany Rocha
em 20/05/23
Nenhum comentário:
Postar um comentário