Minha caneta é o cano de minha arma, porém minha escrita é meu único escudo”. DANY ROCHA

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ESTRANHA INCONSCIÊNCIA


É no silêncio onde a cidade dorme que os pensamentos fogem ao imaginário e se condensam em vontades inexplicáveis...
São reminiscências do passado distante e outras nem tanto. Existe um desejo voraz em meio a tanta solidão, onde o sentido se esvai em nefasta insensatez de sonhos não concretizados e noites mal dormidas.
Entre um gole e outro, uma pilha de papéis avulsos manuscritos, o café morno ao lado da cama e do tic tac do relógio, eu me encontro só... E bem longe dali, ofuscando-se sob a relva da noite que corta o enorme quarto escuro surge a imagem de um ser.
Um ser imaginário, inatingível, uma visão? Seria um homem?
Não tenho certeza... Estou inebriada demais para distinguir se é real ou ilusão.
Ilusão como tantas outras já vividas, como tantas já sofridas. Talvez na vida, eu tenha me entregado demais ou talvez, eu não tenha me entregado o suficiente... Não sei...
Olho novamente e não distingo seu rosto. Aquele ser está lá. Estático! Não sei se ele tem rosto, alma ou coração. Não sei se é a sombra das lembranças dos muitos amores que tive ou se é a sombra das ilusões vividas... Uma mistura de rostos que se confundem indistintamente e se desfaz como névoa...
É um ser de aura dispersa, ser que se confunde entre as sombras da janela e o reflexo da lua, que insiste em abraçar uma parte obscura do recinto.
Aquele ser que por vezes, esconde-se entre sorrisos e olhares, transfigura-se nas luzes lunares do ser pensante e irrequieto que ali habita.
Pálida e distante, o corpo dormente arrepia-se em lembrar daquele rosto gélido, porém suave. Por um segundo eu quis que aquele ser tivesse rosto e nome... Olvidei por um momento, que o conhecia, olvidei suas palavras firmes que escondem um ser sensível, cheio de medos e incertezas...
O porte másculo reclinado no parapeito da janela, o sorriso... Ah, o sorriso... Visão combinada dos deuses Nefertum e Eros... Aquele ser impõem uma imensidão de coisas não ditas e desejos efêmeros. Um olhar marcado pelo tempo. Uma dor cansada de querer o não querer. O suor fastigado de um dia de trabalho, as mãos trêmulas...
Levanto-me irrequieta para contemplar a verdade. Vou ao seu encontro, lentamente aquela imagem se desfaz, como areia no deserto que escoa pelas mãos ele se esvai até que não o vejo mais...
O ser se foi como tantos outros... Só consegui sentir uma brisa leve e perfumada envolvendo minha face como em um último beijo. Se foi... Afastando-se dos meus sonhos, dos meus desejos e do meu coração...

                                                                       Dany Rocha    04/10/2017.

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