É no silêncio onde a cidade dorme
que os pensamentos fogem ao imaginário e se condensam em vontades
inexplicáveis...
São reminiscências do passado
distante e outras nem tanto. Existe um desejo voraz em meio a tanta solidão,
onde o sentido se esvai em nefasta insensatez de sonhos não concretizados e
noites mal dormidas.
Entre um gole e outro, uma pilha
de papéis avulsos manuscritos, o café morno ao lado da cama e do tic tac do relógio, eu me encontro só...
E bem longe dali, ofuscando-se sob a relva da noite que corta o enorme quarto escuro
surge a imagem de um ser.
Um ser imaginário, inatingível,
uma visão? Seria um homem?
Não tenho certeza... Estou
inebriada demais para distinguir se é real ou ilusão.
Ilusão como tantas outras já
vividas, como tantas já sofridas. Talvez na vida, eu tenha me entregado demais
ou talvez, eu não tenha me entregado o suficiente... Não sei...
Olho novamente e não distingo seu
rosto. Aquele ser está lá. Estático! Não sei se ele tem rosto, alma ou coração.
Não sei se é a sombra das lembranças dos muitos amores que tive ou se é a
sombra das ilusões vividas... Uma mistura de rostos que se confundem
indistintamente e se desfaz como névoa...
É um ser de aura dispersa, ser
que se confunde entre as sombras da janela e o reflexo da lua, que insiste em
abraçar uma parte obscura do recinto.
Aquele ser que por vezes,
esconde-se entre sorrisos e olhares, transfigura-se nas luzes lunares do ser
pensante e irrequieto que ali habita.
Pálida e distante, o corpo
dormente arrepia-se em lembrar daquele rosto gélido, porém suave. Por um
segundo eu quis que aquele ser tivesse rosto e nome... Olvidei por um momento,
que o conhecia, olvidei suas palavras firmes que escondem um ser sensível,
cheio de medos e incertezas...
O porte másculo reclinado no
parapeito da janela, o sorriso... Ah, o sorriso... Visão combinada dos deuses
Nefertum e Eros... Aquele ser impõem uma imensidão de coisas não ditas e
desejos efêmeros. Um olhar marcado pelo tempo. Uma dor cansada de querer o não
querer. O suor fastigado de um dia de trabalho, as mãos trêmulas...
Levanto-me irrequieta para
contemplar a verdade. Vou ao seu encontro, lentamente aquela imagem se desfaz,
como areia no deserto que escoa pelas mãos ele se esvai até que não o vejo
mais...
O ser se foi como tantos
outros... Só consegui sentir uma brisa leve e perfumada envolvendo minha face
como em um último beijo. Se foi... Afastando-se dos meus sonhos, dos meus
desejos e do meu coração...
Dany Rocha 04/10/2017.
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