Minha caneta é o cano de minha arma, porém minha escrita é meu único escudo”. DANY ROCHA

domingo, 22 de outubro de 2017

A MATÉRIA E O ANJO (conto)



E lá estava ela... Primeiro dia naquela Instituição... Depois de tantos dissabores da vida, uma nova etapa se iniciaria... Uma nova jornada, algo fascinante e ao mesmo tempo duvidoso.
Não decidira ou não imaginava quão grande seriam as responsabilidades que a fariam capaz de levar o intento até o final. Passara por muitos momentos ruins, situações que a abalaram psicologicamente, colocando-a por muitas vezes, a questionamentos sobre sua capacidade intelectual... Ela sabia que precisava de ajuda, de recursos e incentivos de alguém para sentir-se segura diante de tanta fragilidade.
Bella, era seu nome. Por muito tempo, escondera dos outros e de si mesma, o fascínio pela leitura, pela arte e em especial pela poesia...
Recriando nesse contexto, eis que surge uma luz no abismo que vivia...
Um anjo! Um ser, que estendeu-lhe as mãos, com capacidade surreal ao ouvi-la e apoiá-la. 
Ao contrário, do que muitos faziam ao lerem certos textos, por vezes singelos, sem muito a dizerem ou por vezes na escuridão da ignorância, nem ao menos entendê-los... O anjo lhe prestava homenagens, dava-lhe atenção, incentivo. Ele queria ver sua produção, queria lê-los, mais e mais... Aqueles que para ela não eram apenas escritos, mais sim partes fragmentadas de sua existência... De sua vida expressas em rimas ou simplesmente em palavras soltas discorridas num pedaço de papel...
De súbito, ela arquejou. Como alguém poderia gostar de textos tão simples, sem estética? Não estaria àquela criatura zombando dela novamente, como os demais faziam? Eram dúvidas... Muitas e sofredoras dúvidas, pois não poderia acreditar em mais ninguém...
E num dado momento, usando de sua persuasão, mas com uma linguagem angelical, aquele ser, fez com que ela se rendesse a escrita.
Tomada pela doçura, pelo carisma que em outrora pensou não mais existir, dentro dos seres humanos, rendeu-se...
Escreveu... Escreveu... Escreveu... Como uma louca...
Os dias passaram-se, suas produções aumentavam e as trocas de textos eram cada vez mais recíprocas. Agora, não apenas textos, mais vivências, experiências de vida, medos, tristezas, alegrias...
Entendiam-se os seres. Como se o anjo e a matéria fossem um só. Por muitas vezes, confundia-se o real ao imaginário. A literatura para eles era a bíblia de bolso e a linguística... Ah... Essa ai! Eles também não entendiam. Sorriam...
A noite para aquelas criaturas era apenas uma infante, o sol com o raiar da aurora, um inconstante, ditando um novo dia e anunciando que findava a hora e ela teria que ir a padaria. Muitos risos...
O anjo, certa vez falou: - Sempre que precisar de mim estarei aqui!
Ela guarda na lembrança, a resposta daquela frase num abraço terno, demorado, puro, hoje perdido na inconstância do ser.
O anjo sumiu... Sem explicação desapareceu. Voltou ao mundo que de certo pertencia. Ela outra vez sozinha, pois não era de muitos amigos. Desiludida, chorou a falta do seu protetor.
Se por longas e intensas madrugadas, sua matéria fazia parte de uma vida desalinhada, desprezível, sem nenhum tipo de emoção, aquele anjo, pensava ela, devolveu-lhe a vida. Fazendo-a capaz de sentir os mais belos sentimentos fraternos. Agora ele sumiu...
Ela que tanto acreditou naquele ser celeste, estava triste, iria voltar às asperezas da vida, ao tédio, às amarguras, à solidão cruel das altas madrugadas, quando tudo que ela almejava era uma companhia para dividir seus momentos insanos e cheios de depressivas lembranças do passado.
A moça não era mais ela mesma... Que jogo! Que ímpeto! Destruído tudo que um dia foi dito.
Sentiu-se solitário o ser, a matéria imperfeita. 
Verdadeiro dejeto humano. Recolhida, cabisbaixa ela buscava explicações.
O que mudou naquele anjo?
Ela sabia que os seres humanos corrompem-se, destroem-se. Mas, o divino, não! São seres celestiais, são A N J O S. E se os anjos, também têm deficiências como à matéria, seres imperfeitos, como acreditar nesses seres? 
Ela por vários dias questionava. Por mais que a idiotificação humana possa existir, ela não se deixou abater. Acreditava no retorno de seu protetor. Mesmo triste, sabia que os anjos existiam independentes de sua nomenclatura angelical, havia um anjo da guarda, um anjo fiel, um anjo amigo... Entre tantos anjos, Michael, Rafael, Daniel, Gabriel... Não importava para ela. Aquele anjo, que por certo mudara a sua vida, se nunca mais retornasse a Terra, pelo menos, isso ela tinha certeza, foi o grande responsável por dá de volta o prazer da leitura, e pelas diversas mudanças de conceitos em sua própria matéria.
Cansada, ela pegou um bloco de papel e escreveu ao firmamento, deixando lá para que as palavras fossem absorvidas pelo vento:
"Aos anjos, todos eles, entre o céu e a terra, entre o bem e o mal, entre a verdade e as sombras, entre a sinceridade e as intrigas, enfim entre todos os paradoxos...
Como Nietzschier, ”Que importa o resto? O resto é somente humanidade. É necessário ser superior a ela, em força, em grandeza de alma – e em desprezo”...
  


                                                  By  DANY ROCHA 26/09/08.

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