Encontrava-me angustiada e sem
perceber rabiscando o papel, começava a dar corpo ao que seria uma nova
poesia...
“Dita-me em lamúrias, teu Eu
inconstante.
Subscreve em versos a resposta
que preciso
Quão esplendida admiração!
Num trágico momento, perdeu-se
então”.
Chega! Recuso-me continuar
escrever.
Talvez devesse parar de vez.
Parar de brincar de escritora...
Ultimamente venho sendo emotiva
demais e quando menos espero estão expostos trechos fragmentados de minha vida.
O que dantes causava-me um prazer incondicional, hoje se tornou apenas
deletérios. Meus escritos fizeram-me um ser nostálgico e infinitamente triste.
Se eu passava horas lendo, me deleitando aos pensamentos de Nietzsche e dos
mestres menores, agora percebo que a cada frase interpretada leva-me a mais
profunda melancolia. Parece que aos poucos me fechei numa redoma insólita, onde
ao fundo só existe a melodia do Maluco Beleza misturada na inconstância de
Baco.
Estou perdida dentro de mim
mesma, nem sei ao certo o que sinto, mas estou deveras depressiva. Isso tem me
torturado bastante. Vago a madrugada insone procurando entender meu interior.
Não encontro respostas.
Shakespeare já dizia: “... Nossas
dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o que com freqüência, poderíamos
ganhar, por simples medo de arriscar”. Ele tem toda razão. Arriscar! Eis a
questão. Sinto-me insegura. Tenho medo de correr riscos. Medo de machucar meu
ego outra vez. Talvez um gesto, por mais simplório que seja ou um monossílabo
insignificante para muitos, amenizasse as asperezas deste coração inconsequente...
Empenho-me em um silêncio
torturante que defino inútil, já que por inúmeros momentos sobe-me pela
garganta palavras que de súbito contenho por medo de uma reação constrangedora.
Nem sei se estou sendo justa com tal afirmação, se for contraditória,
perdoe-me. Vejo-me acovardada pelo extremismo das atitudes e isso me causa uma
dor dilacerante em todo meu ser. E se é assim, prefiro calar-me, contemplando
minuciosamente cada gesto, cada sorriso, cada ação, pelo canto dos olhos que
não conseguem fita-lo de frente.
Envolvo-me novamente num denso e
mórbido silêncio que cala não somente meus lábios, mas emudece toda minh'alma.
Sei que não sou santa, você também não é nenhum anjo, cada um com seus defeitos
e rindo vou levando a sério, calada... Dizem que os critérios existenciais
contextualizam que o silêncio em muitas ocasiões é sabedoria, e que o tempo é o
melhor antídoto para as enfermidades da alma. Então vou me enganando, cada um
com sua vida, ficarei aqui, quieta, imóvel no meu canto. Asfixiando-me.
Minhas chagas não cicatrizaram
como eu imaginava e nelas ainda sufoco o vazio, as incertezas de um ser
melancólico e amargurado de saudade que o tempo não apagou de mim, criando uma
protagonista oposta ao que um dia eu pude ser. Uma pessoa que o escudo de
proteção rompeu e desmoronou toda a fortaleza que existia, num momento não muito
distante.
A mulher forte e determinada
cedeu espaço a carência e fragilidade, talvez até de uma pessoa desprezível, já
que é perceptível o total afastamento e não há nada que se faça para modificar
a natureza dos fatos. E mais uma vez eu estava vencida. Deprimida em versos tristes,
muitas vezes recheados de paixão. Na imensidão noturna, percorrendo os sombrios
cômodos da casa, entre um cigarro e uma taça de vinho, sempre alterando o sabor
entre o branco e o tinto, minha vida passava como um flashback. Eram reminiscências... Épocas felizes, conversas banais
que me abarrotavam de alegrias, assuntos sérios, outros nem tanto. Enfim... Sem
perceber o pranto já cobria todo o meu semblante triste, fazendo-me parecer uma
criança insana, perdida.
Infeliz madrugada em si. O abandono, não o de
corpos, mais o de sentimentos, mesmo os mais ínfimos existentes para alguns.
Em 2004, fui presenteada por uma
amiga com uma coletânea de frases filosóficas que me levou ao contato com essa
atmosfera utópica de pensamentos, tornando-me adepta a esse tipo de leitura.
Parafraseando o sábio alemão:
odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer à verdadeira companhia.
Creio que por tanto gostar, os deuses resolveram presentear-me ao “pé da
letra”. Ironia? Castigo? Talvez não. Nada é por acaso nessa passagem terrena. É
um grande desafio detalhar em pormenores a essência de um individuo como faço
comigo nesse instante, expondo minh’alma de maneira verdadeira, sem personagem,
sem máscaras, sem rodeios. Sei que estou me mostrando frágil, porém não
necessito de uma personalidade inverossímil, nem tão pouco ser uma réplica de
mulher ideal. Primo pela verdadeira essência do ser. Assim, simplesmente... Sem
ditar regras pré-estabelecidas por uma sociedade mesquinha a qual faço parte. Quero
poder fazer, ser, dizer o que penso, vivendo sem medos e criando meus próprios
métodos de sobrevivência, minhas próprias arbitrariedades. É se na vida tudo
requer tempo, seguirei... Mas deixando óbvio o apreço que te dedico como uma
reles mortal, em lealdade, carinho e admiração. Sempre!
By Dany Rocha 25/03/09
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