Minha caneta é o cano de minha arma, porém minha escrita é meu único escudo”. DANY ROCHA

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

DIÁLOGO DE AMIGOS (Conto)



Pedro e Joel conversavam longamente em uma mesa de bar, sempre contestando o término do romance do amigo Joel, com uma amiga muito estimada por Pedro.
O sofrimento da poetisa solitária era exposto... Quem a conhecia como Pedro, ficava consternado com a dor de amor da amiga. Precisava fazer algo a respeito. Seria necessário conversar com o amigo, causador das decepções da moça.
-Joel... Queria expor uma adaga. Uma especulação ou talvez, pensamentos verossímeis que tantos procuram saber ou entender e que se resume em sofrimento!
-Nossa lá vem você, com essas idéias malucas de relacionamento. O amor nem existe, Pedro!
- Sim... Ele existe. E com ele o sofrimento, de uma forma quase que numa vida maligna. Sofrimento de uma pessoa muito querida. Mas, sofrimento ambíguo.
-Ambíguo? Por quê?
- Ah, Joel, as mulheres talvez exponham o que por covardia, o sexo oposto insiste em fazer descaso. O sexo masculino, não sente. Não pensam. Não calam. É... Infelizmente, o Sistema exige do macho a sensatez de uma posição hipócrita de fortaleza. Fingir que não amam. “Fingir”, entende?
- Nossa Pedro, lá vem você com sermões...
-Não Joel, não é sermão. Mas deixe-me concluir... Você procurou um refúgio. Fez-se amável e compreendido, para depois arrebatar um coração apaixonado. Poxa, a quem quer repelir? Acho você um fraco... Esconde o que realmente necessita! Fortaleza esta, que se resume em prantos ao deitar no travesseiro.
-Bobagem, Pedro. Por certo, minha menina foi-se reclamar com você. Entenda-me sou um ser animal como tantos homens, não tenho tempo para sentimentalismos de uma adolescente mimada.
-Você realmente não compreende a alma feminina, Joel... O amor que corre nas veias de uma pessoa apaixonada. No holocausto da madrugada fria, que nem reles mortais acredita. Veja quão grande e insano sofrimento passam. E eles, isso mesmo, os grandes, fortes e imaculados machos, sofrem, penam, relembram e também se sentem frágeis... São infantes seres humanos em vida erudita. A moça é uma doçura! Mais verdadeira, sofre inconsequente como pobre criatura. Vocês quantas vezes, relutaram livres na insensatez, do certo e errado. O querer falando mais alto e o Sistema cogitando o não. Estou indignado com sua atitude cafajeste, Joel.
-Pedro é bom você parar com essa conversa, não estou confortável!
-Você nunca gosta da verdade, Joel, mais insisto. Não brinque com os sentimentos dela.
-Sabe Pedro, não entendo o porquê de tanta preocupação com essa mulher. Nos já saímos tanto, zoando na noitada, e nunca vi você preocupar-se com um caso meu.
- Caso? Joel, eu não consigo vê-la sofrendo por você. Ela te ama! Vê-la sofrer por você, seria uma terceira guerra mundial... Não, digo mais sentimental, se tudo expirava a um amor louco, pleno, incondicional e proibido por você.
-Pedro, sou seu amigo, não vamos falar nisso. Eu a adoro, mas não posso. Vais agora dar um de protetor? Como pode indignar-se e tomar suas dores dessa forma, revoltando-se comigo, seu melhor amigo?
- Falo isso Joel, porque posso imaginar o que é amar sem ser amado. Ser apenas um elo para o intento desejado. Ser ignorado como homem. Ser apenas "o amigo..."
- Olhe Pedro, você está apaixonado, eu sabia...
- Você esta falando de quê?
 - Da mulher que você ama e está deixando passar... Você está desistindo, por ela pensar que me ama. Você não percebe que talvez ela ame é você! Desistiu de ser feliz. Talvez seja a zombaria dos amigos, ou ao tempo descrito no firmamento. Mas, como uma droga você pensa nela, fica feliz com a presença dela... E condiciona-se ao amigo enamorado.
- Joel você está distorcendo a conversa. Ela é sua menina.
-Pedro, percebo agora que ela já não mais me pertence. Confesso... Às vezes não queria, mas pensava nela todos os dias. Era um vício... Ela estava ali... Presente... Amando-me diante de tantas amarguras e decepções, que tive em minha triste e desolada vida. Sou um ser complicado. Vivo apenas... É um martírio... Precisava de alguém como ela que me entendia, que me aceitava... Mas fui criança... E não posso, não quero... Tenho certeza que não quero! Vou fazê-la sofrer mais ainda.
- Certeza? Não sente mesmo nada? Nem lembra?
- Bem... Sinto raiva às vezes por lembrar tanto... Por saber que sou reverenciado por ela, mas não posso... Estou gostando de alguém...  Preciso de algo sólido para me firmar. Ela, como eu também, é cheia de mistérios, de crises de personalidade, somos tão parecidos que às vezes, tenho medo. Tentei... Senti-me feliz, por um momento. Necessitava daquela alma encantadora, que me fazia companhia. Mas as feridas de meu coração, não estão completamente sanadas. Não posso, nem devo amá-la.
- Então não alimente esse amor. Veja você, nostálgico em falar dela...
- Não alimento. Sou até rude e deselegante às vezes. Sinto-me mal. Mas preciso ser assim. Ela precisa encontrar-se novamente, com alguém que a mereça de verdade. Posso estar me equivocando mais uma vez, afastando de mim pessoas que são únicas. Talvez esteja só me enganando, nos braços de muitas. Os beijos que ganho momentaneamente, são satisfatórios... Engano-me indo todos os dias ao encontro de um amor que não terá história... Mas, a minha índole de macho necessita de experiências novas. São afagos e enganos... E no íntimo, talvez não me descobri ainda.Talvez, nasci para continuar sozinho Pedro...
- Sinto pena ao ver o amigo desta forma. Quem dera tivesse um amor assim. Mas no meio de tantas discordâncias sobre o amor, você precisa se encontrar. Ficar na esbórnia todos os dias, cometendo os mesmos enganos com mulheres diferenciadas.,,  Até quando vai duelar? Digo por que parece duelo o que vocês vivenciam... Noto nos olhos dela o amor incondicional, o carisma... E você sempre a subestima... Tem medo... Medo de se encontrar... Amigo...
- Talvez. Pode ser que tenhas razão, Pedro. Eu não a mereço.
-Tenho certeza que como você, ela deve estar perdida. Não é todo dia que se tem um sentimento verdadeiro, alegrias, ou foi ruim? Se alguma coisa ruim aconteceu, apagou o universo mágico de vocês?  Será?
- Besteira... Para com isso, Pedro...
- Eu sei, não quer ouvir... Tudo bem... Conheci o amigo nessa atmosfera, nunca dantes o vira feliz... Sorridente, amável... Hoje, o que eu tenho é o amigo agressivo... Mesmo dizendo que está amando...  Não és mais o mesmo, Joel... Arrogante...
Por um instante, Joel cabisbaixo fitou longamente o amigo e falou manso e sereno...
-Faltam-me muitas coisas... Falta-me vida! Palavras ou questionamentos únicos que só eu e quem detem meu coração também pensa... Ela está lá. Parada. Pensando em mim, com todos os meus defeitos e atrocidades, ela me entende. Me aceita. Do jeito insano que sou... Mas quero fazer-te um pedido. Lute por ela, Pedro. Não fui capaz de amá-la como ela merecia... Mas, você sem perceber a ama incondicionalmente... Vejo isso no seu olhar.
Pedro retorceu-se da cadeira, engoliu seco e falou ao amigo:
-Joel era tudo que eu queria ouvir de você, mas não me afobaria se não tivesse a certeza de estar fazendo algo errado. Queria confessar-te algo que me doía o coração... Mas, que agora estou um pouco aliviado pelas suas considerações... 
Respirou fundo, tomou um gole de conhaque e tragou o cigarro... Pedro fita o amigo e fala:
-Joel, eu e Anita estamos juntos há três meses...

                       Dany Rocha  em : 29/07/2009.